terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

:: os 10 melhores dos anos 60...- #08 ::

[8º]


LEONARD COHEN
"Songs Of Leonard Cohen" (1968)


Leonard Cohen tem toda uma aura mística que o envolve como uma névoa. Poucos artistas são mais misteriosos e fascinantes, mais indecifráveis, mais intrigantes e complexos... Cheguei a apelidá-lo Human Puzzle, e é assim que até hoje, carinhosamente, me refiro a esse brilhante poeta da música - um dos maiores. Com mais de 40 anos de carreira (cheia de altos e baixos, é verdade), o compositor canadense, mansamente e sem estardalhaço, deixou uma marca indelével na música do fim do século 20 e é hoje um dos poucos capaz de sustentar um Duelo contra Bob Dylan numa disputa pelo posto de Maior Poeta da Música Pop Em Língua Inglesa nas últimas 4 décadas.

“O departamento de produção da Columbia certamente não esperava que Leonard Cohen se tornasse tão popular quando assinaram o contrato discográfico, mas depois de vender mais de 100.000 cópias do seu primeiro álbum em 1968 essa estrela inesperada estava já muito bem situada no mapa” – diz o 1.001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer. De fato, o bardo canadense não era o tipo de artista em quem uma grande gravadora apostaria suas fichas para ser um sucesso de vendas. A música de Leonard Cohen, soturna e melancólica, tendo como destaque as letras altamente simbólicas e carregadas de lirismo, não parecia nada adequada às rádios comerciais. Se seu 1o álbum foi tão bem-sucedido, não foi por concessões feitas ao comercialismo - e hoje Cohen é reconhecido muito mais pela qualidade de sua discografia do que pelas vendagens (bastante modestas) que alcançou. Muito mais cult que pop.

Sofisticado e intelectual demais para o hit parade, Cohen tinha tudo para ser um daqueles minúsculos artistas cult conhecidos por meia dúzia de gente antenada. Nossa sorte é que o culto ao redor de seu nome foi tão intenso que hoje é quase impossível conhecer qualquer fã de música que não tenha ouvido falar em seu nome e sua obra, seja como músico, como escritor ou, para os fãs mais exaltados, quase como um profeta (a filiação de Cohen ao budismo tornou-se tão intensa nos anos 90 que ele passou vários anos preso dentro dum monastério, dedicando-se totalmente à vida contemplativa, chegando a atingir, segundo alguns, uma invejável estatura de Iluminado!).

Leonard Cohen
considerava-se muito mais um escritor e um poeta do que propriamente um músico - e já tinha mais de trinta anos quando gravou seu disco de estréia, alavancado para o sucesso pelo hit “Suzanne”, que já havia se notabilizado na versão de Judy Collins, em 1966. Antes de embarcar de vez em sua jornada musical, Cohen tinha estudado literatura inglesa em duas universidades (a McGill de Montreal e a Columbia de Nova Yorke) e já havia publicado livros de poesia (o primeiro deles lançado em 1956) e romances (The Favorite Game, de 1963, e Beautiful Losers, de 1966). No fim dos anos 50, recitava poesias sob um fundo pianístico simples ao estilo beatnik – aí começaram nos primórdios suas aventuras propriamente musicais. Mas é falso pensar que o interesse de Cohen pela música é tardio, já que desde sua adolescência ele procurava modos de levar sua poesia para além dos muros da academia – e poucos métodos eram mais eficazes do que musicá-las.

Apesar de ter sido considerado uma espécie de “trovador rival” de Bob Dylan e um dos poucos poetas da música capazes de rivalizar com ele em talento literário, Cohen, ao contrário de investir no folk de protesto que notabilizou Dylan (ao menos em seus primeiros álbuns), era muito mais o poeta da angústia, dos amores doloridos e do questionamento religioso. Artistas de muito renome hoje o consideram como uma influência primordial, como Nick Cave, R.E.M., Jeff Buckley, Sisters Of Mercy (que retiraram inspiração para o nome da banda de uma canção deste primeiro álbum de Cohen) e Kurt Cobain (que citou-o num verso de “Pennyroyal Tea” do Nirvana).

“Na Europa”, comenta a Enciclopédia do Rock da Rolling Stone, “sua aura de desespero romântico quase suicida fez com que ele ganhasse aclamação como um herdeiro de Jacques Brel”. Seu primeiro álbum, um dos mais belos documentos poéticos musicais da década, é o tipo de obra para se ouvir com o respeito que ouviríamos um grande poeta declamando suas melhores poesias. O ideal é procurar não se incomodar com o tom de voz um tanto monótono e desapaixonado de Cohen, que de fato não é um cantor com uma potência vocal digna de nota, e prestar atenção, palavra a palavra, aos versos que passeiam por cima desses simples e singelos dedilhados ao violão.

As 10 músicas de Songs Of Leonard Cohen compõe um álbum impregnado de mistério, de uma beleza tenebrosa, de uma poesia fantasmagórica e espectral, onde um dos mais brilhantes poetas da música em língua inglesa está em um de seus mais brilhantes momentos. Cohen ainda faria pelo menos mais um disco excelente e lotado de um lirismo ainda mais sombrio e torturante, o incrível Songs Of Love and Hate, mas seu álbum de estréia permanece uma obra-de-arte assustadoramente penetrante, que nos encara com olhos de Medusa, petrificantes, e nos deixa ali, com a consciência boquiaberta frente a um fluxo ininterrupto de palavras tão intrigantes...

DOWNLOAD (mp3 de 192kps, 10 faixas, 41min, 56MB):
http://www.mediafire.com/?cy4hzfzzodf

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