sábado, 24 de maio de 2008

:: Gang Of Four ::




:: GANG OF FOUR, "Entertainment" (1979)

por João Eduardo Veiga
da ROCK PRESS



A banda surgiu na cidade de Leeds, Inglaterra, em 1977 e, já no nome, exibia inspirações que iam muito além do usual e do ocidental. O termo “Gang of Four” havia sido tirado do título pejorativo (em português, “Camarilha dos Quatro” e, no original em chinês, alguma coisa que eu não consigo escrever e você não saberia ler) dado a um grupo comunista liderado pela viúva de Mao Tsé-Tung, que procurou, na China da década de 60, prosseguir com a revolução iniciada por seu marido. Sim, estamos falando de política. Mas uma política com bastante suíngue.

Enquanto o Sex Pistols só queria saber de pretensamente destruir qualquer coisa que cruzasse o seu caminho e o Clash ia às ruas lutar pelos seus direitos, Gang of Four, a banda, fazia de suas canções verdadeiros manifestos e, armada com teoria política e barulheira pós-punk, tentava - pois sonhar, ora bolas, não custa nada - derrubar os alicerces da cultura capitalista.

O grupo, formado por Jon King (vocal), Andy Gill (guitarra), Dave Allen (baixo) e Hugo Burnham (bateria) era contra tudo, anti-tudo, inclusive anti-música. O Gang of Four picotava a elaboração do funk e do soul, forçando que tudo coubesse perfeitamente na economia punk.

Os dois acordes, os vocais gélidos e as frases repetitivas eram uma maneira da banda transpor sua ideologia para o formato das ondas sonoras. Como resultado, a necessária contradição: a não-música resultava em algo muito musical, o instrumental frio se tornava extremamente dançante e o grupo anti-capitalista assinava com uma grande gravadora.

É, o primeiro álbum, Entertainment!, foi lançando pela EMI, em 1979. Mas o engajamento manteve-se ali, intacto (em “I Found That Essence Rare” o alvo ia dos políticos ao biquíni), mesmo que às vezes sob metáforas de relacionamentos amorosos. Era o caso de “Return the Gift” (“devolva-me as noites e os fins de semana”), da pop “Damaged Goods” (“às vezes acho que te amo, mas sei que é só luxúria”) e da, ahn, anti-épica “Anthrax”, na qual Jon King compara o amor a um caso de antraz - mais de duas décadas antes de a doença ter seus quinze minutos de fama por causa dos supostos ataques terroristas de 2001 - enquanto o guitarrista Andy Gill lê um verdadeiro ensaio sobre a temática do romance na música popular (“nós não achamos que o que acontece entre duas pessoas deva ser envolto em mistério”).

O grupo lançou ainda os discos Solid Gold, Songs of the Free e Hard, os dois últimos com a baixista Sara Lee no lugar de Dave Allen e com sintetizadores fazendo boa parte do papel das guitarras, encerrando as atividades em 1984. Gill e King não deixaram o fantasma do Gang of Four em paz e gravaram, no começo dos anos 90, dois álbuns que não acrescentaram muito à sua discografia.

Depois disso, a banda finalmente passou a existir apenas como uma importante referência. Pense em Red Hot Chili Peppers (Andy Gill produziu o álbum de estréia do grupo) e Rage Against the Machine. Pense no rock paulista dos anos 80 - os Titãs traduziram uma estrofe inteira de “Damaged Goods” na música “Corações e Mentes”. Pense, pense. Pense, dance.

DOWNLOAD (64 MB - mp3 de 192kps):
http://www.mediafire.com/?mrfhd4uwzbw

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