sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

<<< 10 de 2010 >>>



#5

BLACK CROWES
Croweology


É na estrada que o Black Crowes se sente mais em casa. Que o diga "Wiser Time", uma das mais lindas baladonas de Amorica, um hino em celebração da vida errante, cigana, boêmia, que louva o estilo-de-vida pé-na-estrada de quem sai em busca de tempos mais sábios. Eddie Vedder fez um excelente serviço com a trilha original de Into the Wild, mas "Wiser Time" também seria um belíssimo pano-de-fundo sonoro para as aventuras de Alexander Supertramp, no Alaska e além...

 Mas 20 anos vivendo à la Easy Rider, até para o mais entusiástico hippie, é algo um tanto desgastante. Chega uma hora, lá por perto dos 50, em que os cabeludos, depois de alguns milhões de quilômetros rodados e alguns milhares de miligramas de ácido ingeridos, escolhem tirar um descanso da vida de rolling stone pelas ladeiras do tempo... They choose to settle down. Começam a sonhar com a serenidade de uma cabana de madeira no bosque, lotada de vinis e violões, onde viver só fumando um baseado e ouvindo clássicos do Grateful Dead ou da The Band. "Who could ask for anything more?"


Tenho quase certeza que este é o fim da linha. Os irmãos Robinson dizem estar entrando num hiato (palavrinha cada vez mais recorrente: vide Los Hermanos e Sleater-Kinney....), mas suspeito que é só para que o pranto dos fãs não seja histérico, inconsolável. Eles dizem "hiato" e com isso nos dão de lambuja a esperança de um retorno, sabe-se lá quando. O fato é que ficaremos sem os Black Crowes por um punhado de anos, mas com um belo legado a explorar, re-ouvir, re-curtir, re-amar.

Como presente de despedida, os caras gravaram para os fãs este delicioso duplaço Croweology, com 20 das melhores canções da banda rearranjadas num classudo formato semi-acústico. Digamos que é o equivalente de um MTV Unplugged, mas realizado sem quaisquer obrigações contratuais com grandes emissoras de TV ou interesses corporativos. Liberdade não falta para que a banda encare long-distance-trips: 3 faixas tem mais de 9 minutos de duração, e apenas uma acaba em menos de 4'. Os Crowes aqui planam no ar com tranquilidade, sem pressa, viajando nos trilhos da memória e curtindo-se no processo de gerar curtição. Share the ride!

Talvez seja preciso já ser admirador de longa data da banda para enxergar este álbum pelo que ele é: um rico tesouro que nos deixam alguns amigos queridos antes de darem aquela sumida no mundo. Desde o primeiro play em Croweology, eu abri meus ouvidos para o que viria não com desconfiança, senso crítico, como um júri na frente de um réu, mas com o amplo afeto que os Crowes já me conquistaram. Neste disco, they preach to the converted. E eu, faz tempo, sou assecla entusiasta deste culto sem deus cuja única igreja é a estrada, cujo único messias é o som e cuja única pregação é em prol da paz, do amor e de uma rock'n'rolling soul...

Aqui pára, por hora, a caravana hippie'n'roll dos Crowes. Ao invés do pranto, prefiro a alegria por terem existido. Let's wave goodbye. And let's keep on playin' these songs!



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(Assista em 360p para uma experiência estética completa!)


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