terça-feira, 26 de junho de 2012

"Um horizonte sempre cambiante, a cada dia um novo Sol..."


Chris McCandless por Jon Krakauer: "A viagem ao Alasca seria uma odisséia no pleno sentido do termo, uma jornada épica que mudaria tudo. Ele passara os quatro anos anteriores, tal como via as coisas, preparando-se para cumprir um dever oneroso e absurdo: graduar-se na faculdade. Finalmente estava desimpedido, emancipado do mundo sufocante de seus pais e pares, um mundo de abstração, segurança e excesso material, um mundo em que ele se sentia dolorosamente isolado da pulsação vital da existência. Saindo de Atlanta para o oeste, pretendia inventar uma vida totalmente nova para si mesmo, na qual estaria livre para mergulhar na experiência crua, sem filtros.
Como adepto moderno de Henry David Thoreau, tinha por evangelho "A Desobediência Civil" e considerava, portanto, sua responsabilidade moral zombar das leis do Estado. Ele não se perturbava com a perspectiva de abandonar seu carro: via nisso uma oportunidade de abandonar bagagem desnecessária. (...) Num gesto que deixaria Thoreau e Tolstoi orgulhosos, empilhou todas as suas cédulas de dinheiro na areia - e tocou fogo. Cento e vinte e três dólares em dinheiro legal prontamente reduzidos a cinza e fumaça.
McCandless vagou pelo oeste, encantado com a escala e o poder da paisagem, excitado com pequenas escaramuças com a lei, saboreando a companhia intermitente de outros vagabundos que encontrou no caminho. Chris era muito da teoria de que você não deve possuir mais do que pode carregar nas costas numa corrida repentina. Ele não expressava senão desprezo pelos adereços burgueses da sociedade americana. Não era raro que a face de McCandless ficasse rubra de raiva enquanto vituperava contra seus pais, os políticos ou a idiotia endêmica do modo de vida dominante americano.
Mandou uma carta a seu amigo Franz que diz: "Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências e, portanto, não há alegria maior que ter um horizonte sempre cambiante, cada dia com um novo e diferente Sol".

Jon Krakauer
"Na Natureza Selvagem"
Ed. Cia das Letras
(pgs 34-39-40-43-63-67-68)



"Eu conhecia todas as regras,
mas as regras não me conheciam."

(E. Vedder)

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